terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Entrevista gravada



Questão levantada por Paulo Azevedo

Olá amigo João,

deixa-me discordar com o que dizes. Neste caso, parece-me que não é importante transcrever necessariamente as palavras exactas do entrevistado. É importante transcrever sim as ideias que o entrevistado transmite. Pode acontecer que o entrevistado tenha dificuldade em transmitir uma ideia por palavras. No entanto, o entrevistador compreende a ideia e regista o seu entendimento do que o que o entrevistado queria dizer. Posteriormente apresenta ao entrevistado, por escrito, o registo das informações retiradas das respostas do entrevistado, possivelmente reformuladas, sem ferir o conteúdo das respostas mesmo que não utilize as mesmas palavras. Eu compreendo que para quem está habituado ao rigor da transmissão da informação estas ideias possam ser estranhas, mas trata-se de uma entrevista semi-estruturada inserida numa investigação qualitativa e não de uma entrevista jornalística.


Resposta:

Amigo Paulo,
continuo a defender que a entrevista deve ser gravada. Uma entrevista semi-estruturada deve ter uma duração entre 30 a 40 minutos, pelo que me parece complicado durante esse período estarmos a escrever tudo aquilo que o entrevistado nos diz e ainda conseguirmos encadear as perguntas seguintes (sobretudo porque algumas das perguntas seguintes podem decorrer da conversa e não estarem no guião).
A interpretação das ideias do entrevistado pode ser feita aquando da análise de conteúdo, sendo no entanto certo que, por uma questão de rigor, há autores que aconselham a facultar o protocolo escrito da entrevista ao entrevistado. Assim, a análise de conteúdo será mais correcta pois parte daquilo que o entrevistado disse e queria dizer.
É evidente que te posso dar razão se me falares num trabalho que consiste numa única entrevista que seja de curta duração. Agora se me falas numa investigação longitudinal, em que seja necessário fazer o estado da arte logo de início, e na qual trabalhes com muitos sujeitos, por exemplo, será mais fácil gravar as entrevistas e passar depois a protocolo escrito para análise. Caso te baseies apenas em notas, num conjunto tão vasto de entrevistas, pode acontecer que nos percamos num mar de dados.
Finalmente, em relação ao rigor. É evidente que no jornalismo tem de haver rigor. Mas numa entrevista de investigação esse rigor tem que ser, pelo menos igual, ou superior.

João Carrega 29 Dezembro

Reflexão
O debate de ideias é sempre benéfico para a aprendizagem. Como já referi, anteriormente, a entrevista deve ser gravada. Defendo isso, não porque sou jornalista, mas porque é a única forma de transcrever correctamente tudo aquilo que o entrevistado nos diz.

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