sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Planear uma investigação

Questões
Em rigor, podemos usar o termo amostra num estudo de caso?
Há algum procedimento de amostragem num estudo de caso?

em resposta à sua questão, sou da opinião de que:

Em rigor, nos estudos de caso a amostra coincide com a população. Por isso, se diz ser um estudo de caso.

O Estudo de Caso é um tipo de investigação que aposta claramente no conhecimento em profundidade, em relação a determinado problema e não na obtenção de resultados que sejam generalizáveis.

De qualquer modo, se estamos a desenvolver um Estudo de Caso numa escola em que, por exemplo, pretendo testar uma nova TIC e os seus eventuais efeitos na aprendizagem de uma língua estrangeira, poderei não reunir condições de a aplicar a todas as turmas da escola, pelo que terei de optar por uma amostra de conveniência.


João Carrega 3 de Novembro 2009


Desafio
Suponham que estavam na fase de elaborar um projecto de investigação. Esse projecto de investigação teria de ser apresentado à coordenação do mestrado e a um possível orientador. Suponham ainda que cada um procurava, antes de proceder à entrega do projecto, pedir a outro colega para analisar o projecto e avaliar até que ponto esse projecto daria origem a uma investigação exequível, com sucesso e cujos resultados viriam acrescentar algo à investigação já produzida na área.
Suponham também que a esse projecto faltava um (ou mais) dos passos a seguir enunciados. Que consequências poderiam advir?


Resposta

Procurando responder às questões lançadas, aqui fica o meu contributo, de forma sucinta e objectiva, numa lógica de pergunta resposta, evitando vários posts sobre o mesmo tema:

1. a formulação do problema de investigação?
A formulação do problema é a primeira das etapas. É nesta fase que se escolhe a problemática a investigar. O problema é, pois, a pergunta à qual a pesquisa se deve subordinar e para a qual terá que encontrar uma resposta. Logo, sem um problema a investigação seria “ cega”. Não teria alvo, nem objectivo.

2. a revisão da literatura (estado da arte à volta da problemática em que se insere o problema)?
A revisão da literatura torna-se indispensável para se aferir a investigação existente na área que vamos pesquisar É ela que traz “lucidez” ao problema e que nos ajuda a delimitá-lo, a corrigi-lo ou a reformulá-lo. Pode proporcionar-nos uma antevisão das metodologias e dos instrumentos de pesquisa a utilizar. A revisão de literatura pode, ainda, impedir que corramos o risco de uma pesquisa que possamos considerar inovadora, já tenha sido exaustivamente investigada, pelo que não iríamos acrescentar nada de novo ao “estado da arte” existente.

3. a assunção de qual o paradigma dominante em que se inseria a investigação?
Sem esta etapa, e sem definirmos o paradigma não haverá uma linha condutora da investigação, em termos de metodologia. É nesta fase que se deve optar pelo chamado design da investigação. Deve escolher-se qual o método a seguir, se o quantitativo, se o qualitativo, ou se ambos.

4. a explicitação dos objectivos da investigação? ou a especificação das hipóteses de investigação? (tendo em conta o ponto anterior)
Sem ter objectivos claros e hipóteses claras, o investigador não consegue fazer progredir a investigação, de forma a obter resultados. São eles que servem de “guias” da investigação já que pretendem dar respostas concretas à pergunta formulada no problema.

5. a explicitação dos métodos de investigação?
Sem uma explicação adequada o investigador não consegue explicar porque é que a metodologia da investigação adoptada é a adequada. Nesta fase é importante explicar quais os métodos e a razão por se terem escolhido estes e não outros. A escolha do método decorre da especificidade da investigação e nunca da vontade subjectiva do investigador.

Se se optar pelo método quantitativo pode-se privilegiar a utilização de um questionário. Podem utilizar-se guiões de questionários anteriormente utilizados e validados, ou um guião de questionário novo que deve ser validado por investigadores qualificados.

Se se optar pelo método qualitativo pode-se privilegiar a utilização da entrevista, através de um guião de entrevista já validado. Ou através de um novo guião o qual deve ser validado por investigadores qualificados.

Mas pode-se também optar por outros métodos, tais como por os estudos histórico-descritivos, os estudos biográficos (análise da história de vida das pessoas), ou pelos estudos etnográficos (muitos deles baseados na observação).


6. A caracterização da amostra ou do caso a estudar?
A caracterização da amostra é fundamental nos estudos de população. Na constituição da amostra tem que se garantir a sua representatividade porque só assim os resultados poderão ser generalizados e o estudo poderá garantir uma forte validade externa. A amostra é a parte menor, representativa do todo maior.

Por outro lado a delimitação do caso é fundamental para garantir que os sujeitos, ou situações nele incluídos, nos permitem responder às questões de investigação, ou aos objectivos da pesquisa, garantindo a validade interna dos resultados.


7) A caracterização das técnicas de recolha de informação ou dos dados a recolher e da especificação de como se vão aplicar?
A escolha das técnicas decorre do método, do tipo de estudo e das condições da pesquisa. É por isso importante definir e caracterizar que técnica vai utilizar para uma recolha objectiva dos dados de que se necessita.

É partir desta fase que se inicia a produção das respostas às questões da investigação.


8) A previsão das técnicas de análise de dados a que se vai proceder?
As técnicas de análise dos dados dependem do tipo de estudo, dos métodos e das técnicas utilizadas. Num estudo quantitativo, de população, em que se utilizaram questionários para a recolha de dados, é plausível a utilização de instrumentos estatísticos para o tratamento dos resultados. Num estudo qualitativo, por exemplo de caso, em que se utilizaram entrevistas abertas ou semi-estruturadas, é razoável que se possa utilizar a análise de conteúdo.


9) as referências bibliográficas já trabalhadas?
As referências bibliográficas devem começar a ser trabalhadas de acordo com as normas da universidade em que se está a fazer a investigação. No caso das ciências da Educação, as normas mais utilizadas são as da Associação Americana de Psicologia.


João Carrega 3 de Novembro 2009

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